"Os Portugueses ousaram cometer o grande Mar Oceano"
Pedro Nunes



quinta-feira, 28 de outubro de 2010

PAULO MANUEL

ALTRUÍSMO 

Desde há vários anos, quando me foi sugerida a ideia de definir uma pessoa numa só palavra (como se isso fosse possível …), que a palavra altruísmo tem sido sempre por mim associada ao meu irmão Paulo.

Nunca conheci outra pessoa que estivesse permanentemente disponível para ajudar os outros, não de uma forma generalista e de “missão” (no mau sentido do termo), mas de uma forma específica e particular para cada um de nós que, nesses momentos, sentíamos o seu genuíno e desinteressado empenho em resolver problemas que lhe eram colocados, em nos aconselhar com muita serenidade e valor, ou simplesmente para nos escutar os desabafos. Sempre contámos com ele, como contamos com o Sol que todos os dias nos ilumina. Ainda ontem, um grande amigo que nos conhece há quase cinquenta anos me dizia que, durante todo esses anos, não se lembra de alguma vez ter ouvido o meu irmão dizer Não a qualquer pedido de ajuda.

Deixou-nos fisicamente, mas teve, como sempre, o cuidado de não nos deixar desamparados; a sua memória está recheada de tantos bons momentos que nos será sempre possível tê-lo presente no nosso espírito. Pessoalmente, tenho conseguido aplacar a minha dor com o pensamento de que ele, seguramente, não gostaria que o recordássemos com lágrimas, mas sempre com uma enorme alegria pelos inúmeros e sempre agradáveis momentos de convívio que cada um de nós, individual e colectivamente, com ele partilhámos.

Também nos deixou duas grandes heranças, as quais teremos de ser merecedores de respeitar e acarinhar.

Por um lado, o seu Exemplo de bondade, honestidade, honradez e sentido de justiça que nos compete transmitir aos nossos filhos e netos e, com uma convicção tão forte, que também eles sintam prazer e utilidade em o transmitir aos seus próprios filhos e netos; a sua memória irá perdurar por muitas décadas e, nesse sentido, só morrerá quando nós o permitirmos. Numa sociedade onde cada vez mais se sabe o preço de tudo, mas se deixou de conhecer o valor do que é realmente importante, é bom saber e dar a conhecer que continuam a existir pessoas como o Manuel, que são capazes de manter integralmente os seus valores, independentemente das injustas consequências que daí lhe possam advir – como, de resto, com ele aconteceu a nível profissional -, e conseguem fazê-lo com um empenho e um entusiasmo que, só ele próprio, soube onde os angariar.

Por outro lado, o Paulo Manuel deixou-nos bem viva aquela que é, ele próprio isso me ensinou, a maior obra que jamais poderemos construir: os nossos filhos. A Renata, cuja vida e alegria transbordante (que há-de voltar, estou disso seguro, por muito que a tua actual tristeza nisso não te deixe por agora pensar) tanto tem encantado as nossas existências, está naturalmente a construir o seu próprio caminho, mas já nos tem mostrado que, simultaneamente, consegue conciliar essa autonomia com a continuidade que vai dando à obra e aos valores do seu Pai.

Termino, com um merecido e justíssimo reconhecimento: tudo o que o Henrique, o Kiau, o Paulo e eu próprio temos de bom nas nossas maneiras de ser tem uma raiz comum, os nossos pais.

Evocação pelo irmão João Monteiro Marques
26.10.2010

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Até um dia, Amigo!

A morte é tão estúpida quanto certa e real.
Mas nunca a aceitaremos como tal, e ainda mais quando é inesperada, qual coice brutal da besta-destino.
E invariavelmente, leva-nos sempre à mesma pergunta: Porquê?
No teu caso, esta pergunta é ainda mais plausível e justificada.
Embora não muito bem tratado pela organização que sempre dedicadamente serviste durante grande parte da tua vida, foste um militar exemplar e intocável.
Mas, muito mais do que isso, foste um Homem íntegro e generoso e um pai extremoso e sempre atento em quem a Renata terá razões fundadas para um imenso e eterno orgulho.
Nesta tua efémera passagem pela vida pautaste-te sempre por uma integridade de princípios que fez com que te admirássemos pela tua honestidade intelectual, pela clarividência das tuas posições mesmo em situações de diferenças ideológicas (não de filosofia, mas de modos de actuação), sem que nunca te deixasses resvalar para posições primárias, apaixonadas, extremadas e inconsequentes, mas acima de tudo, e sempre, em qualquer circunstância, pela tua amizade sincera, sempre disponível e sempre presente.
Neste dia em que fisicamente nos deixaste, nesta hora de dor daqueles com que contigo tiveram o grande privilégio de privar e de te ter como Amigo, fica o sentimento de um enorme vazio e de uma profunda saudade.
Seja onde for que agora estejas, estou certo de que um dia nos encontraremos para, como em tantas outras ocasiões, pormos a conversa em dia.
Obrigado, Paulo, pela tua amizade, e até um dia!

sábado, 23 de outubro de 2010

Adeus irmão, até sempre!



Paulo Manuel Monteiro Marques, 1949-2010


Paulo, sabíamos que não estarias na Escola Naval para comemorar os 40 anos da nossa entrada porque uns dias antes partias para mais uma das viagens da tua vida.
Afinal a vida não ligou aos teus planos e antecipou a tua partida. Não vamos contar contigo neste como em eventos futuros.
Mas caramba, em todos eles vais estar no lugar de honra da nossa memória individual e colectiva. Serás sempre uma referência como Ser Humano forte, vertical, honesto, rigoroso, sensato e, acima de tudo, solidário e amigo.

Obrigado!

terça-feira, 12 de outubro de 2010

A nossa culpa

Dizem que somos todos culpados pela situação de Portugal.
É verdade, somos todos culpados quanto mais não seja por tolerarmos os actuais dirigentes financeiros e políticos, estejam eles em Lisboa, em Bruxelas, em Frankfurt, em Washington ou em Nova Iorque.
A ilusão de um sistema económico dominado por mecanismos de reforço exclusivamente baseados nos resultados financeiros e onde os processos reguladores e de equilíbrio foram anulados, só podia ter este resultado. Foram criadas condições ideais para dirigentes cuja ideologia é a mentira e a prática o tráfico de influências tomarem o poder e levarem os Estados mais frágeis e as respectivas estruturas e empresas, públicas e privadas, ao charco. É ver por exemplo a substituição das estruturas produtivas nacionais por empresas de serviços internacionais, o investimento público em projectos financeiramente desastrosos com parcerias público-privadas ou a forma como a União Europeia e os governos usam os mecanismos de concentração nos programas-quadro, nos concursos públicos e nos ajustes directos para eliminar a concorrência e reforçar os designados campeões, criando oligarquias público-privadas que funcionam como governos de poucos em benefício próprio.
Mas estas oligarquias público-privadas só podiam sobreviver em democracia se a maioria do eleitorado se mantivesse satisfeita ou amorfa. Para isso deram-lhe emprego pouco exigente e de muito baixa produtividade, crédito fácil e abundante, produtos de consumo e sobretudo informação apresentada como base do pensamento. Como a mente humana pensa com ideias e não com informações (as informações não criam ideias, as ideias criam informações) era inevitável o empobrecimento espiritual e a perda da diversidade cultural, eufemisticamente chamados de fim das ideologias
Parece que a farra das duas últimas décadas chegou ao fim e os mesmos de sempre vão ter de pagar a conta. Os poucos ricos vão continuar ainda mais ricos e os muitos pobres vão ficar ainda mais pobres. E desengane-se quem pensar que uma mudança de governo resolve o problema. Se os padrões de pensamento e comportamento que produziram os actuais dirigentes se mantiverem intactos, não tenho dúvida que mais cedo do que tarde produzirão nova fornada com outra roupagem mas com o mesmo resultado funesto para a sociedade.
O futuro dos meus netos preocupa-me muito e é necessário e urgente alterar aqueles padrões. Para isso estou disponível para trabalhar e criar sinergias com quem tenha as mesmas preocupações e privilegie a verdade, a inteligência, o rigor e a seriedade de processos.