"Os Portugueses ousaram cometer o grande Mar Oceano"
Pedro Nunes



terça-feira, 15 de novembro de 2022

 

Julgo que terá sido na Churrasqueira do Campo Grande, mas sem grandes certezas.

quarta-feira, 18 de março de 2015

O Penico tem de saber vela!



O Manel era um homem bom, humilde e generoso. É como sempre o vi, desde que nos conhecemos na Escola Naval. Fazíamos parte do tal grupo de cinquenta e um jovens que, vá-se lá saber porque estranhas razões, se juntaram num austero edifício na mata do Alfeite.

Para mim, aquele era um mundo novo. Sobre as matemáticas, as físicas e as políticas, tinha a experiência de dois anos de Técnico, da crise académica e das eleições de 69. Mas sobre as artes náuticas, era um zero absoluto. O mar para mim era praia; praia de manhã, à tarde e à noite.

Mas para o Manel, não. Ele era um veterano que conhecia bem os cantos da Escola Naval e ainda por cima dominava as lides náuticas. Podia tirar partido desse ascendente mas nunca o fez, antes pelo contrário. Preocupava-se até com a minha ignorância náutica e dizia-me: O Penico tem de saber vela! Eu vou ensinar-te.

E assim fez. Numa tarde fria de inverno lá fomos levantar um Vaurien no CNOCA e fizémo‑nos ao rio. Velejámos até ao Terreiro do Paço, acenámos às turistas no Cais das Colunas, corria tudo às mil maravilhas. Até que subitamente o vento refrescou e as condições mudaram radicalmente. Tentámos rumar ao Alfeite mas perdemos o leme. Foi o cabo dos trabalhos!

Não me lembro dos detalhes da nossa aventura mas sei que foi duro. Durante horas lutámos contra os elementos mas com a liderança do Manel, um leme improvisado e a ajuda da maré, lá conseguimos voltar ao CNOCA, já noite e totalmente enregelados. Lavámos e entregámos a embarcação, corremos para a Escola Naval, fardámo-nos e apresentámo-nos para o jantar na hora limite. E guardámos só para nós o que correu mal.

Não sei se fui capaz de satisfazer as expectativas do Manel quanto à aprendizagem da vela, julgo que não. Mas sei que foi com episódios como este que criei laços de amizade e camaradagem indestrutíveis com homens bons como o Manel. Laços que duram há quase meio século, desde que o tal grupo de jovens decidiu juntar-se num austero edifício na mata do Alfeite.

domingo, 19 de maio de 2013

Nóbrega de Lima, 18 maio 2013


Boa noite a todos.
Venho por este meio informar que as visitas foram proibidas por ordem médica.
É com uma enorme angústia que vos digo que o meu pai está a mesmo a dar as últimas. E por mais que tentemos mudar o rumo às coisas, encontrar soluções, mudar tratamentos, por mais que ele próprio lute contra isto .... não há nada que resulte!!
Sei que não devia perder a fé, mas como posso ter fé num Deus salvador se esse mesmo Deus está a castigar o meu pai e todos os que o amam? Ele não merecia morrer desta forma. Lenta, dolorosa, sem se conseguir expressar e pior de tudo, com a total consciência de que mais cedo ou mais tarde morre e não conseguiu sequer dizer adeus.
Está exausto... é como se tivesse saído de uma cirurgia e estivesse pedrado, mas em vez de adormecer a meio das conversas por curtos períodos, ele quando adormece fica horas para voltar a acordar.
Ele por mais que uma vez me tenta dizer algo, eu sei que há algo que ele nos últimos dias me tenta dizer, a sós, mas ainda não arranjou forças.. e cada vez tem menos...
É tão frustrante vê-lo a morrer diante de mim, com a consciência e a tristeza de se tentar mover, falar, escrever etc, e não conseguir. Com a angústia de ninguém compreender o que ele tenta dizer, e por já não conseguir fazer coisas simples como mudar de canal na TV... as mãos tremem, ele não tem sensibilidade ou força, deixa cair tudo.. tenta levantar-se sozinho para provar que não é nenhum incapaz... mas não consegue levantar um único centímetro de corpo. Dá pedidos de raiva e de imensa dor.
Das últimas vezes que ele se conseguiu fazer ouvir, foi na chegada do senhor almirante Talvares de Almeida, em que ele disse todo animado (em esforço e na medida do possível) "bom dia senhor almirante" e fez uma continência em enorme esforço.
Ainda há minutos ele olhou para mim, com um olhar muito terno e meigo, até deixar cair uma lágrima e olhar para mim com o olhar mais infeliz deste mundo como se me implorasse para que eu o libertasse de tanta dor. sem conseguir dizer uma única palavra. Por mais que tente na maioria das vezes nem um pequeno som ele consegue fazer...
Envio em anexo 2 coisas que ele escreveu ontem.. se algum de vós as conseguir traduzir agradecia imenso.
Ps: Sei que têm partilhado os emails, agradecia que partilhassem  também este para os amigos mais chegados e para os do curso BA.
Obrigado.
Frederica Nóbrega de Lima

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Os militares são frouxos?

Porque sou militar, de formação e por convicção, quase sinto vergonha de o dizer. Mas sobrepõe-se-me a honestidade intelectual e o dever de consciênca.
Um dia, há 41 anos atrás, jurei “defender a Pátria e as suas instituições ... no dever do respeito da hierarquia e da obediência aos chefes ... consagrando-me ao cumprimento do dever militar ... ainda que com o sacrifício da própria vida”.
Quando o fiz, aliás como muitos outros, foi no cumprimento de um ritual militar isento de ideologias políticas que não tinha (que muito poucos militares tinham) na altura.
Ao longo da frequência da Escola Naval, e através do contacto com militares da então Reserva Naval, já formados pelas univeridades civis e a cumprirem o serviço militar obrigatório, fui-me apercebendo da realidade do País (que de todo era a minha) e das profundas injustiças sociais que se viviam, quer na então Metrópole, quer no Ultramar, e de que todos estávamos e iríamos ser vítimas a mais ou menos curto prazo.
Depois veio o 25 de Abril (o de 1974, não outro qualquer) e tive a hipótese de escolher um dos lados da barricada que dividia Portugal.
Por convicção, arrisquei e escolhi o lado vencedor (terá sido?) e embarquei na aventura de me juntar àqueles que queriam fazer de Portugal um País melhor, democrático, evoluído, socialmente justo, com todas as condições para um futuro promissor.
Numa altura em que detínhamos o Poder por risco e mérito proprios, entregámo-lo de bandeja a políticos tão aprendizes quanto nós, mas que tinham a enorme vantagem da ambição e da ausência de escrúpulos e de dever patriótico para atingirem os seus fins.
Aos poucos, fomo-nos agachando cobardemente às ideologias interesseiras de políticos oportunistas que nunca pensaram no Povo mas apenas neles próprios, culminando na extinção do Conselho da Revolução. Tudo perante a nossa passividade.
Ingenuidade? Talvez, mas não só! Porque houve oficiais (e conheço alguns) que de "perigosos" revolucionários se conseguiram guindar a posições de topo na hierarquia das FFAA em troca da concessão das suas posições ideológicas de base. E com isto se tornaram tão oportunistas quanto os políticos profissionais.
Actualmente o que temos? Um País de rastos, à beira do colapso económico e, mais grave ainda, da crise social, sem rumo, sem perspectivas e sem esperança.
Passados 37 anos sobre a Revolução dos Cravos, resta aos incautos como eu assistirmos à reversão de valores que levou ao levantamento militar de 25 de Abril de 1974 e olharmos impávidos e serenos para a destruição do País e para o achincalhamento da Instituição Militar. Até quando?
O Povo Português está actualmente a sofrer agressões e assaltos brutais que até no tempo do António das Botas eram menos descarados. Perante os factos só resta uma pergunta: foi para isto que fizemos o 25 de Abril de 1974?
Lamento profundamente ter sido enganado na altura, e penitencio-me aqui por ter contribuído para a actual situação. Pelo facto, e pela minha quota de responsabilidade, peço desculpa a todos os Portugueses que, naquele dia, confiaram nos seus militares.
Mas, com a convicção da justiça e honorabilidade de princípios por que sempre pautei a minha postura pessoal, e agora bastante mais esclarecido politicamente, afirmo solenemente que estou totalmente disponível para reparar, em qualquer altura, os erros do passado, que também ajudei a permitir que se concretizasem.
Assim hajam mais camaradas que se sintam tão enganados e envergonhados quanto eu!

Silva Lopes

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Carta aberta ao Eng. Macário Correia

Exmo. Senhor engenheiro

Felizmente tenho o privilégio de não o conhecer pesoalmente o que, espero, nunca venha a suceder. Bastou-me ouvi-lo.

Mas deixe que me apresente. Sou, com muito orgulho, um oficial superior das FFAA, na reserva, um dos muitos que V. Exa. deliberada e desbragadamente ofendeu na sua entrevista à Rádio Renascença no passado dia 13 de Setembro.

Estive algo indeciso se deveria baixar-me ao seu nível para lhe dar a resposta adequada. Mas como “quem não se sente não é filho de boa gente”, acabei por decidir-me a dar-lhe essa resposta, que é estritamente pessoal e sem mandato de ninguém.

Desconheço se V. Exa. alguma vez cumpriu serviço militar; mas, pela sua prosódia, decerto desconhece ou ignora os valores porque se pauta a Instituição Militar, infelizmente bem diferentes dos praticados pela generalidade dos agentes da classe política a que V. Exa. pertence. Se não foi à tropa, ter-lhe ia feito bem, pode crer; se foi, andou certamente distraído, ou foi dispensado das aulas de organização e regulamentos para estar presente nalgum qualquer comício ou reunião partidária.

Mas queria ainda lembrar-lhe uma coisa: não foram os militares, mas sim os políticos a cuja classe, repito, V. Exa. pertence, que, com as suas acções ou omissões, levaram o País à situação ruinosa e degradante em que se encontra actualmente, que tem bom exemplo, também, na Câmara falida a que V. Exa. preside.

Nesta perspectiva, era bom que, tal como os militares que V. Exa. referiu e acusou sem especificar, os políticos nada tivessem feito durante alguns anos. Pelo menos não teriam feito tanto estrago!

Quem é V. Exa.? Que excelsa competência julga que possui, para ousar sequer fazer comentários sobre os militares e a Instituição Militar?

Por acaso reparou no número de dirigentes políticos existentes no País (alguns que, se calhar, também não fazem nada) em comparação com o número de generais e oficiais superiores a que se referiu?

Isto já para não mencionar a situação de que, para terem uma reforma de 80% do vencimento completo (por enquanto), os militares obrigam-se a um código de honra e de conduta que têm de cumprir durante 40 anos, enquanto aos políticos basta passarem três mandatos como deputados na A.R, como Presidentes de Câmara ou de um qualquer Governo Regional, ainda que façam asneiras gravosas para o Erário Público, pelas quais não está (convenientemente) previsto serem criminalmente responsabilizados.

Queria ainda lembrar-lhe outra coisa: curiosamente, foram também os militares que permitiram a V. Exa. poder agora proferir publicamente as baboseiras, para educadamente não lhe chamar alarvidades, que vomitou naquela entrevista.

Não tenho qualquer consideração pela política nem pelos seus agentes – aliás cada vez menos – e longe de mim criar polémicas ou pretender fazer comparações entre a idoneidade de militares e de políticos, pois estas são impossíveis de estabelecer considerando a prática de vida de uns e de outros, tomando em conta apenas os últimos 37 anos de democracia.

Mas tenho 40 anos de serviço efectivo; e não posso, em nome dessa mesma democracia, da carreira que devotadamente abracei e do meu estatuto de militar, permitir que um qualquer pacóvio provinciano invoque a sua qualidade de representante do povo, ainda que legitimamente eleito, para passear impunemente, numa emissora de audiência nacional, a sua estúpida e insultuosa verborreia de escroque arrogante e tendencioso.
Até porque foi inútil, porquanto, nesta fase do campeonato, nem sequer lhe capta votos.

Sr. engenheiro, quero finalmente lembrar-lhe que todos os animais têm o seu pasto próprio. Portanto, na minha humilde opinião, deveria limitar-se à pocilga que lhe destinaram e à sua pia de lavagem, deixando o prado para as outras espécies.

E, já agora, para terminar, permita-me uma sincera e humilde confidência pessoal:

PORTUGAL SÓ LÁ VAI COM UMAS ARROCHADAS!

Manuel B. Silva Lopes
CTEN AN (Res)

sábado, 2 de abril de 2011

Portugal está de rastos

Não é apenas economica e financeiramente que o País está destruído.
Muito mais grave ainda é que também o está moralmente.
Fiquei tão perplexo quanto envergonhado, quiçá até incomodado, com a recente decisão tomada POR UNANIMIDADE no Parlamento para que a AR se não reúna para efeitos das comemorações do 25 de Abril sob o pretexto de se encontrar dissolvida.
Mas o que sobretudo mais me irrita é tal decisão ter sido tomada por unanimidade.
Como militar sinto simultaneamente pena, raiva e vergonha de que um movimento que foi levado a cabo com intenções altruistas e patrióticas e com o objectivo único (talvez utópico) de pernitir a criação de um Portugal melhor e mais solidário para com todos os seus concidadãos, tenha descambado na tragi-comédia de que todos somos intérpretes.
Quanto ao pretexto aduzido, a Constituição é clara: o mandato dos deputados (art.º 153) só cessa com a primeira reunião dos seus substitutos (eleitos nas eleições seguintes) e, além disso, a Comissão Permanente, que se mantém sempre em funções, pode “promover a convocação da Assembleia sempre que tal seja necessário” (art.º 179, alínea c). Tal como o Presidente da República (art.º 174) pode convocá-la “extraordinariamente” se assim o entender para “assuntos específicos”.
Portanto, esgotado o pretexto, o que fica claríssimo é a falta de vontade dos intervenientes de recordarem uma data que, para alguns, no mínimo será muito incómoda. Ou talvez também o facto de com a cerimónia oficial terem de perder um diazito do fim de semana prolongado tenha contribuído para o unanimismo da decisão. Será que se isto se passasse no dia 5 de Outubro não se realizariam as comemorações da implantação da República ?
O que também é um facto é que os senhores deputados estão a ser pagos pelos contribuintes para exercerem as funções inerentes aos mandatos para que foram eleitos. E isso inclui também a participação em cerimónias oficiais. A menos que reneguem, mas então digam-no claramente para todos percebermos, a importância histórica do 25 de Abril e daquilo que representou para o País.
Acredito que muitos dos deputados que hoje se sentam no Parlamento nada tenham a ver com a ideologia que presidiu ao 25 de Abril. Mas como foram democraticamente eleitos, temos de os aceitar como tal.
Até aí, tudo bem. Só não aceito que se esqueçam que foi precisamente o 25 de Abril que lhes permitiu sentarem-se onde hoje se sentam e proferirem as bestialidades que amiúde se ouvem na AR.
Portanto, aos senhores deputados de todos os partidos representados na AR, que ajudaram a levar o País à complicadissima situação em que se encontra, apenas se pede um sacrifício, ao estilo de recomendação: apesar da “greve” cumpram os “serviços mínimos” se não querem ficar reduzidos ao epíteto de chulos da nação.
Malaio